Temporada da tainha
- michellekormanndas
- 1 de jun. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 22 de jun. de 2020
Para as cidades que não tem praia e que estão próximas do litoral, vale lembrar que está aberta a “Temporada da Tainha”.
A pesca da tainha acontece no período de 1º de maio até 31 de julho. Ocorre em todos os estados da região Sul e na área litorânea do Sudeste, sendo em Santa Catarina o maior volume de captura. É no outono, auxiliados pelo forte sopro do vento sul, que grandes cardumes migram do Rio Grande do Sul (Lagoa dos Patos) para reproduzir por essas regiões.
A pesca de arrasto de praia é uma modalidade artesanal, bem como uma tradição centenária. Uma figura muito importante nessa prática é o “vigia” que está sempre atento aos movimentos do mar e garante que o cardume seja detectado ao se aproximar da costa. Dia e noite esses homens (sim, essa ainda é uma atividade estritamente masculina) estão apostos e vigilantes. Pode chover ou fazer um sol de rachar, ou mesmo estar um frio danado, que sempre tem alguém lá nas pedras. Ao identificar uma aglomeração de peixes o vigia acena freneticamente com um casaco ou uma espécie de bandeira (não estou certa, mas creio que já se renderam à tecnologia e usam o celular para avisar os companheiros) dando o sinal aos outros camaradas que estão sempre com a canoa pronta na praia. Ansiosos, ao receber o aviso, esses homens entram no mar e fazem o cerco, lançando a rede de modo a encurralar os peixes impedindo que fujam para o mar aberto.
A partir daí todos os que estão por perto ajudam a puxar, pescadores e seus familiares, comunidade e turistas, todos puxam, fazem força e puxam mais forte. Muitos têm que entrar na água para agarrar a barra da rede e iniciar o trabalho. Após todo o cardume já se encontrar amontoado na areia procede-se a contagem das tainhas e a distribuição do quinhão e é aí que vem a recompensa, pois quem ajuda se dá bem, levando para casa um ou mais peixes, conforme foi a fartura do arrastão.




Certo dia, sem aviso prévio, reparei grande movimentação na praia. Fui correndo ver do que se tratava e logo fui envolvida num trabalho pesado, cheio de adrenalina e emoção... lá estava eu ajudando a puxar uma rede de arrasto! Foi uma experiência incrível! Ganhei duas tainhas ovadas! Fiz delas sashimi e filés. Creio que o prazer de saborear um peixe fresco (fresquíssimo) é algo que todos deveriam provar.
As ovas da tainha tem amplo apelo comercial e geralmente são retiradas do peixe para serem negociadas separadamente. O valor do quilo da ova é consideravelmente maior que o valor da carne da tainha. A bottarga, que é um processo de desidratação da ova, transformando-a em um tipo de caviar, é uma iguaria que tem se difundido no mercado nacional e internacional. Tem sabor marcante e inconfundível, trata-se de um produto sofisticado. Experimente a bottarga para saborizar saladas ou fatiar para acompanhar pães e queijos.
Gosto de valorizar nossa tainha, nossos peixes, creio que os produtos locais são sempre os melhores. Quando penso em preparar a tainha, são diversas formas que me dão água na boca. Bem fresca, na forma de sashimi, o qual já comentei a pouco. Além desse, nas formas: filé, posta, inteira ou espalmada. O interessante de se fazer filé é que ao retirar a pele, fica fácil de raspar a gordura que está entre a carne e a pele e assim extrair o “sabor forte” que muitos identificam.
Ainda em relação ao filé, a cocção ideal é selar em frigideira com um bom antiaderente e um fio de azeite de oliva com o fogo bem alto. Se sua preferência for cortar o peixe em postas, fica uma delícia submetê-lo a fritura por imersão, temperar do seu gosto e passar farinha de mandioca por fora e então fritar. No caso de manter a tainha inteira, pode-se recheá-la e assar em forno, ou assá-la na churrasqueira. Se essa for a sua opção, procure manter as escamas e deixar essa parte em contato direto com a grelha. Quando o corte aplicado for o espalmado, da mesma forma pode-se assar no forno ou em churrasqueira, e também manter as escamas. Muito versátil e saboroso esse peixe de época é irresistível!
Infelizmente nessa temporada de 2020, ano diferente em todos os sentidos por causa do Corona Vírus, não estão permitidas aglomerações nas praias, nem acesso à alguns municípios, mas felizmente podemos comprar nossa tainha nas melhores peixarias da região!




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